quarta-feira, 27 de maio de 2020




O DEUS SUPREMO COMO ATMOSFERA,PARA NUNCA FALTAR AR

O Projeto que articulo de Memória e Cidade, vai se tornando estratégias de construção de um Instituto, um centro de pesquisa, produção e comunicação, o IMCAV- Instituto Memória e Cidade em Artes Visuais. A Ação de sua criação torna-se o objetivo geral do projeto de revisão de centenário, para rever os 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 2022.
Nessa trajetória, um pequeno texto inicial fruto de pensamentos que há anos estão se formando, em raciocínios causados com minhas pesquisas a partir de 2017 sobre o artista sacerdote Mestre Didi e a cosmogonia Nagô, ganha forma agora quando a escritora Clarice Lispector entra em constelação centenária.

FILOSOFIA GRECO-IORUBÁ
Teriam as civilizações grega e Iorubá, mantidos no mundo antigo algum contato?

SIM, o contato mais ao Norte do Atlântico do Território hoje conhecido como Nigéria, com civilizações Mediterrâneas aconteciam. Por que cremos que não houve contribuições do povo Africano a compreensão filosófica acerca de como surgiu o universo? Talvez por não nos deixarem ver o negro no papel pensante, capaz de formular teorias filosóficas, pois vejamos:

Anaxímenes de Mileto, foi discípulo de Anaximandro e, provavelmente, o terceiro filósofo da tradição ocidental. O filósofo pré-socrático viveu na região da Jônia (atualmente território turco) até 528 antes de Cristo. Nesse estágio a filosofia grega busca entender uma partícula ou princípio que dá origem ao universo: Tales de Mileto vai crer ser a água, Heráclito de Éfeso o fogo. E Anaxímenes o ar, como os Iorubás que em sua cosmogonia, acreditam ser o início de tudo, no seu vazio, uma enorme camada de ar: OLORUN, o Deus Supremo Ar, comum a tudo.

Nesse estágio de plenitude etérea, a reverberação de uma onda de impulso infinito, em seu deslocamento lentíssimo, faz surgir o princípio em Olorun, chamado Olorumirá, que se tornará Iroko, o tempo e Ifá, o que tudo viu, condutor da narrativa. Portanto nesse primeiro espaço Deus Supremo, o tempo surgi e com sua relatividade com o ar, vai macerar suas micros partículas criando uma inicial umidade. Com o crescimento da umidade, Olorun torna-se Olodumarê, onde vai surgir a água, que Tales de Mileto, acreditava princípio maleável da forma, o que está certo com a visão da gênesis Nagô, pois o ar e a água fazem surgir OXALÁ, o espaço-tempo da construção de tudo.

É em Oxalá, no seu princípio ar ou Obatalá e seu princípio água ou Oduduwá que surgirá uma minúscula lama cósmica, que ao unir-se criará a primeira forma, ou EXU IANG. Com a coexistência em Oxalá, do princípio positivo ar, que sempre se elevará e do princípio negativo água que sempre descerá na busca de preencher o espaço, é o que faz surgir o princípio procriado, primeira forma, com a qual será possível diferenciar todas as outras. Essa Trindade pai, mãe e filho, é chamada Igbá Odw, representada em uma forma de duas cabaças, cortadas ao meio e unidas com seus gargalos voltados para o Alto, Obatalá e para baixo, Oduduwá, contendo o princípio de individualização Exu. Igbá Odw imagem simbólica para a conformação que causará a explosão cósmica que faz surgir o universo. O fogo primordial de Heráclito, ou a partícula super condensada de tudo, que produz a grande explosão, o Big Bang, que a astrofísica ocidental sustentará como tese de surgimento do universo. O que houve antes para formação dessa partícula que explode, a cosmogonia Iorubá responde.

Foi preciso o mundo parar, para o materialismo enquanto manutenção da vida, e espiritualidade fonte de conforto frente a existência da morte, unir o que parecia erroneamente díspares.