terça-feira, 21 de abril de 2009

TRADIÇÃO POPULAR E CONTEMPORANEIDADE: VIVER EM PERFORMANCE

fotos abadepimentel

"BEIJOS PARA IEMANJÁ", nasceu em um laboratório de performance dirigido pela pesquisadora Bia Medeiros e sua assistente Cíntia da Universidade de Brasília, em 2005. O curso patrocinado, pelo Minc, teve ampla participação de performances baianos, como Tuti Minervino, Zemário, Carol Leite, Silverino Ojû, Larissa Ferreira, entre outros artistas com interesse nessa expressão artística efêmera e que exige a ação direta do artista.
No curso, Bia nos propôs trazer objetos que pudessem ser usados como elementos visuais no auxilio da criação da performance. Eu levei então espelhinhos ovais que foram da instalação "Banho', realizada por mim em 2003. No fundo desses espelhos colei papel branco, onde pedia que depois de passar um batom, os participantes carimbassem um beijo e assinassem . Com esses espelhos eu faria uma oferenda para Iemanjá, que tem festa de grande repercussão na cidade de Salvador, no dia 2 de Fevereiro.
Nesse laboratório, os espelhos, antes de receberem o Beijo para Iemanjá, ganharam as bocas dos participantes, como um adorno indígena-hi-tech, criando seres estranhos com reflexo labial. Fomos da Escola de Belas artes, no bairro do Canela, até o Campo Grande, praça próxima à escola de arte que nos sediava. Com espelhos na boca e pedras na mão, outro elemento selecionado nos exercícios na escola, ganhamos as ruas do centro provocando reações variadas nos transeuntes. Tenho um registro do participante Goethe dessa ação de rua.
De volta à escola recolhi os beijos como havia pensado, fiz mais coletas de beijos no espaço Lumas, no Rio Vermelho. Na festa de Iemanjá fiz a entrega em um balaio para a rainha do mar.
Em 2006, no evento multi-mídia Pirambeira, organizado por Marconde Dourado e a cantora Mariella Santiago, criei um espaço na Zauber, local do evento, com um altar para as águas, onde executei recolhimento de mais beijos sobre uma imagem de Iemanjá colada no verso do espelho, que foram entregues, ao mar, em um novo balaio. Participaram dessa ação a cantora Fao Miranda e o Marcondes Dourado que registrava nossas performances, na festa de 2007.
Em 2008, estava no Rio de Janeiro no dia 2 de fevereiro e fiz uma pequena oferenda em Copacabana. Em 2009, organizei um novo balaio que vocês podem ver nas fotos iniciais dessa postagem. Beijos para Iemanjá tornou minha ação imaterial, de agregar energias coletivas para ter as graças da mãe do Atlântico para nossa constelação contemporânea.









fotos Bia medeiros

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Da Galeria para a Rua- parte I: Performances

Cama de Rua- viés do tempo, performance criada para o I Festival da Livre Expressão Sexual, em 2003. O festival reuniu vários eventos na Biblioteca Central dos Barris, trouxe a Salvador o Festival Mix Brasil, intelectuais e agentes sociais ligados à pesquisa sobre a diversidade de gênero e sexual. Esses festivais organizados por intelectuais como Osvaldo Fernandez, Roaleno Costa, Edward MacRea e ricardo Lippy, teve ações em artes visuais com Curadoria de Alberto Heráclito, realizadas em territórios LGBT do Centro da Cidade.

Minha apresentação estava programada para o Beco das Torres Gêmeas, ou Beco da Lama, uma travessa que faz esquina com a Rua Carlos Gomes. Houve na rua a apresentação do Ayrson Heráclito intitulada "Trago Amargo": uma série de slides que denunciavam violências à homossexuais e um vídeo do Danilo Barata, onde familiares e amigos do artista deixavam ser filmados em nu frontal, lateral e de costa, incluindo nessas imagens a mãe do artista. Esses dois trabalhos eram projetados em edifícios dessa esquina.
O que foi suficiente para atrair a Polícia e tornar o evento um campo de protesto contra a repressão sexual. Quando chego Para minha apresentação, que foi construída como um roupa a ser remontada como uma cama de rua, encontro a cena com a polícia e faço um protesto lascando tudo que trago no corpo e clamando pela proteção de Flávio de Carvalho e Hélio Oiticica. O Flávio Lopes possui registros dessa noite.

As fotos disponibilizadas aqui são do II festival em 2004. Depois da noite fervida do I festival, desenvolvi a exposição "Cama, Mesa e banho", que me deu Prêmio Braskem em 2003. Quando volto para essa apresentação, no mesmo lugar da primeira, na esquina da rua Carlos Gomes, a performance foi enriquecida com elementos da instalação Cama (Ver Postagem abaixo) . Trata-se de um uma saia que na verdade é um mosquiteiro, onde arrumo colcha e travesseiros. Com uma série de bonequinhos para atos de feitiçaria realizo uma balada amorosa, unindo e separando destinos em encontros eróticos, como um deus travesso ao som de Smetak.

Tenho registro em vídeo do Marconde Dourado, dessa apresentações e de uma outra, realizada na Praça 2 de Julho, para um outro Festival de Arte desse Bairro, realizado em 2006. Fiz ainda para a exposição "Cidades Paralelas", na Galeria do Solar Ferrão, em 2007, uma montagem com esse processo.



fotos: Roberto de Souza



terça-feira, 14 de abril de 2009

Cama, Mesa e Banho- Uma casa do imaginário baiano da Baixa dos Sapateiros


"Banho"- instalação.













"Mesa"- Instalação



















"Cama"- instalação
Fotos: Carlinhos Lantyer
"CAMA, MESA E BANHO"
Prêmio Brasken de Cultura e Arte (2003), "Cama , Mesa e Banho" foi realizada na Galeria da Cidade, no Complexo Cultural da Praça Castro Alves, descida da Ladeira da Barroquinha que dá acesso a Baixa dos Sapateiros. Completa a trilogia sobre a rua, trabalhos que contei com a assistência de produção do Gerson Soares. Seu título foi inspirado nas lojas de produtos para o lar, assim anunciadas. Era um conjunto de três instalações em ambientes interligados representando um quarto, uma sala e um banheiro.
CAMA
No quarto penetrava-se em um enorme mosquiteiro, sob o qual havia uma cama com colcha vermelha. Nessa cama havia dois travesseiros transparentes, por onde se viam dois vídeos complementares entre si.
O vídeo que chamo "Travesseiros para Sonhar Encontros", pois feito para a instalação Cama e receberá uma nova edição compactando para uma única experiência, juntando a instalação e as duas partes do processo áudio-visual. Concebi a instalação com os vídeos dividido nos dois trechos que deveriam mostrar a Baixa dos Sapateiros do Carmo até a porta do Cine Pax, e da Ladeira da Mouraria até o mesmo Cine Pax, momento em que as imagens são comuns nos dois monitores.
Esse encontro romântico em 2003, de uma bela menina baiana, a Juliana, com o amor cinematográfico, espírito cultural que tomou a Baixa dos Sapateiros no século XX da cultura de massa, simbolizado no cinema Pax. Enquanto Juliana, desce a Ladeira da Mouraria, caminha pela Barroquinha e Praça dos Veteranos, Sai do Carmo seu contra ponto. no trecho do Carmo- Pax, uma moça misteriosa lança-se do Mercado de Santa Barbara e belos rapazes baianos insinuam-se para uma misteriosa androginia.
No lado feminino de Juliana, chamei O flavio Lopes e o David Gabiru Cavalcante para tomada de imagens, edição e para assinarem a co-direção do trecho, queria o olhar masculino completo dos gajos. No trecho masculino, coloquei essa pitada andrógina, com a performance de Manoela no mercado e Buda e Raimundo, logo em seguida. Pedia ainda no momento de gravação, a Carlinhos Lantyer e Maria Pinheiro, primos amigos androginos co-responsáveis por esse trecho, todas as bundas e torax de rapazes que passavam. Não deixei de ver as moças e ao chegar no Cine Pax e encontrar minha Juliana, vou morar no cinema e dentro de uma cama, que possui esses travesseiros para sonhar encontros, calçinhas vermelhas para uma Padilha e cuecas pretas para um Exu que gosta de homens e mulheres. Na montagem final o contraste do azul do mosquiteiro com o vermelho da colcha e seus olhos eletrônicos, me faz lembrar o mestre Fellini, talvez senhor espiritual do erotismo romântico que vi na baixa. (link para o vídeo)
MESA
Na mesa fiz a junção do "Tabuleiro de Pratos" com as "Travessas do Campo Sincretico" (ver retrato filmado e na Baixa dos Sapateiros nas postagens abaixo). O resultado são pratos de santos católicos que são recebidos para um banquete africano com o carruru parafinado. É a mesa para pensar o sincretismo, do ponto de vista cultural, existente na Bahia de suas manifestações religiosas.
BANHO
No Banheiro o euforismo nacionalista de Ary Barroso, para quem a exposição é dedicada pelo centenário comemorado naquele 2003. Nessa instalação, um tapete de solas de sandálias havaiannas levam ao conjunto de louças sanitárias apoiadas em uma peça de espelhos, com copos com flores de plástico brancas. no lavatório pequenos sapos plásticos fazem a festa e dentro do vaso sanitário uma latinha, sugerindo merda enlatada, é depositada com o rótulo TATE GALLERY.
Do lado direito dessa parte sanitária, ficava o box para banho, espaço delimitado por uma cortina transparente contendo centenas de pequenos espelhos ovais. Uma banheira amarelo ouro cheia de sal grosso sobre azulejos azuis piscina bossa nova.
No lado esquerdo, uma área de lazer do imenso banheiro: uma gramado plástico, uma rede feita com as correias das sandálias sugerem uma trave de campo de futebol, e no lugar do goleiro uma Caixa de Música tocava versões variadas de "Na baixa dos Sapateiros" do imortal Ary Barroso em ano de centenário. Essa ação, hoje sei, fez surgir mais tarde em 2007, o Projeto Big Bem que repensa ações que estão fazendo 100 anos nessa primeira década dos anos 2000.










Na Baixa dos Sapateiros, Galeria da Casa de Angola na Bahia.IV mercado cultural, 2002.


Realizada na Galeria da Casa de Angola na Bahia, localizada na própria Baixa dos Sapateiros. Deu continuidade à pesquisa que então me levava diariamente à via, a bibliotecas e ao Instituto de História e Geografia, em busca de fontes que contassem algo sobre a rua comercial mais famosa da Bahia.
Na instalação, travessas tipo duralex continham ingredientes de um Caruru, comida típica oferecida a Santa Barbara, padroeira da rua. Seus festejos são realizados no dia 4 de dezembro. Na festa ocorre a destribuição da iguaria que no Candomblé é ofertada ao Orixa Iansã.
Essas travessas estavam depositadas em pequenas caixas de luz sobre o chão, onde havia um desenho de um mapa da rua. Em uma outra sala ficava o tabuleiro da exposição do ICBa (ver abaixo), com um vídeo sobre a rua, que fiz tendo como captadores de imagens e edição Roque Aráujo e Petrus Pires. (link para vídeo)

Retrato Filmado na Baixa dos Sapateiros, ICBA , 2002
















Tabuleiro, 2001. Instalação com pratos transparentes iluminados por baixo. Em cada prato fotografia de produtos a venda na Baixa dos Sapateiros.


DEPOIS DAS ÁGUAS E DOS CARTOGRAMAS FEITOS EM 2001 PARTI PARA UMA PESQUISA SOBRE A BAIXA DOS SAPATEIROS, VIA COMERCIAL E CULTURAL DE SALVADOR, SURGIDA COM O ATERRAMENTO DO RIO DAS TRIPAS.

PRIMEIRA PERIFÉRIA DA VELHA SALVADOR, LOCAL DE ABATEDOUROS QUE ATIRAVAM OS RESTOS DOS ABATES NO RIO. LOCAL ONDE SE CONCENTRARAM OS PRIMEIROS NEGROS LIBERTOS, QUE REALIZAVAM O SONHO DE POSSUIR UM SAPATO, SÍMBOLO DO HOMEM LIVRE.

J J SEABRA FAZ A PAVIMENTAÇÃO E A RUA TORNA-SE COM ESSA HIGIENIZAÇÃO MAIS SIMPÁTICA AOS OLHOS DOS COMERCIANTES DE ARTEFATOS POPULARES, BEM COMO AOS INVESTIDORES DAS CASAS MISTAS DE TEATRO/CINEMA/CASSINO.

SURGEM ENTÃO NESSA VIA VÁRIOS CINEMAS QUE VEICULAM OS SONHOS DE CONSUMO, QUE AS LOJAS DA RUA TENTAM REALIZAR. ESSA É A VIA QUE LIDA COM A CULTURA DE MASSA COMERCIAL MAIS FAMOSA DA BAHIA E TALVEZ DO BRASIL, POIS IMORTALIZADA
NA CANÇÃO DO ARY BARROSO, INTERPRETADA INCONTÁVEIS VEZES POR CANTORES DO PAÍS E DO MUNDO.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

cartograma




CARTOGRAMAS DE SALVADOR, série de pinturas e instalação, onde apliquei a técnica da deriva situacionista, que consiste em perambular por trechos, abrindo mão de seus marcos monumentais e buscando outros sentidos psicos-geográficos. A ação consistia em percorrer essas áreas, recolher objetos simbólicos da ação de derivar, voltar para o atelier na Vila Brandão, encosta da Ladeira da Barra e elaborar um mapa sensorial da área visitada.
A Primeira foto, o Cartograma da feira de São Joaquim- feito com elementos comprados na famosa feira baiana, reproduz um tabuleiro popular, rementendo a necessidades de consumo alimentar e espiritual. Na segunda foto o bairro da Liberdade, bairro de fortes manifestações negra na Cidade. O pé calçado e o pé descalço dos afros descententes na Bahia.
Acima imagen do Cartograma do Comércio, na deriva a realizada em 2000, a esperança de um renascimento do velho centro comercial de Salvador, cheio de prédios vázios.


No cartograma do largo 2 de julho, a feira e os bares, interior e vida underground e inteligente. Depois da realizaçao desse cartograma, esse trecho passou por projeto de revitalização bastante contestado por ter destruido árvores. As que foram plantadas na épocas crescem agora, e a fonte iluminada já não mais funciona. Hoje tenho meu atelier nesse bairro.




Vila Brandão, onde realizei a série. Fica em uma encosta fantástica, atrás da Ladeira da Barra, reúne uma comunidade de pessoas simples, estudantes universitários, artistas e estrangeiros. Um verdadeiro campo de integração social e em constante estado de alerta contra a ganância de empresas particulares e públicas.


As exposições Cartograma e Água 100+ foram abertas, simultaneamente, em duas Galerias do trecho conhecido como Circuito das Artes, no Bairro da Vitória.

Água 100 +

Água 100+, Galeria do ACBEU, 2001.
Instalação realizada como mapeamento das águas da orla marítima de Salvador. Foram recolhidas amostras das águas de praias, desde os Alagados à Pedra do Sal. Estas 100 amostras de águas foram colocadas em copos iluminados por baixo. Nesses copos foram fixadas fotos em transparência do momento da colheita. Um vídeo feito com os slaides da colheita da água era projetado em um papel transparente colado sobre o vidro da galeria, podendo ser visto de fora e de dentro, criando um aquário visual no espaço.


concebido por mim e realizado com Rosa Ribeiro e LIlian Canário .











Realizada em 2001 na Galeria do ACBEU.