terça-feira, 14 de abril de 2009

Cama, Mesa e Banho- Uma casa do imaginário baiano da Baixa dos Sapateiros


"Banho"- instalação.













"Mesa"- Instalação



















"Cama"- instalação
Fotos: Carlinhos Lantyer
"CAMA, MESA E BANHO"
Prêmio Brasken de Cultura e Arte (2003), "Cama , Mesa e Banho" foi realizada na Galeria da Cidade, no Complexo Cultural da Praça Castro Alves, descida da Ladeira da Barroquinha que dá acesso a Baixa dos Sapateiros. Completa a trilogia sobre a rua, trabalhos que contei com a assistência de produção do Gerson Soares. Seu título foi inspirado nas lojas de produtos para o lar, assim anunciadas. Era um conjunto de três instalações em ambientes interligados representando um quarto, uma sala e um banheiro.
CAMA
No quarto penetrava-se em um enorme mosquiteiro, sob o qual havia uma cama com colcha vermelha. Nessa cama havia dois travesseiros transparentes, por onde se viam dois vídeos complementares entre si.
O vídeo que chamo "Travesseiros para Sonhar Encontros", pois feito para a instalação Cama e receberá uma nova edição compactando para uma única experiência, juntando a instalação e as duas partes do processo áudio-visual. Concebi a instalação com os vídeos dividido nos dois trechos que deveriam mostrar a Baixa dos Sapateiros do Carmo até a porta do Cine Pax, e da Ladeira da Mouraria até o mesmo Cine Pax, momento em que as imagens são comuns nos dois monitores.
Esse encontro romântico em 2003, de uma bela menina baiana, a Juliana, com o amor cinematográfico, espírito cultural que tomou a Baixa dos Sapateiros no século XX da cultura de massa, simbolizado no cinema Pax. Enquanto Juliana, desce a Ladeira da Mouraria, caminha pela Barroquinha e Praça dos Veteranos, Sai do Carmo seu contra ponto. no trecho do Carmo- Pax, uma moça misteriosa lança-se do Mercado de Santa Barbara e belos rapazes baianos insinuam-se para uma misteriosa androginia.
No lado feminino de Juliana, chamei O flavio Lopes e o David Gabiru Cavalcante para tomada de imagens, edição e para assinarem a co-direção do trecho, queria o olhar masculino completo dos gajos. No trecho masculino, coloquei essa pitada andrógina, com a performance de Manoela no mercado e Buda e Raimundo, logo em seguida. Pedia ainda no momento de gravação, a Carlinhos Lantyer e Maria Pinheiro, primos amigos androginos co-responsáveis por esse trecho, todas as bundas e torax de rapazes que passavam. Não deixei de ver as moças e ao chegar no Cine Pax e encontrar minha Juliana, vou morar no cinema e dentro de uma cama, que possui esses travesseiros para sonhar encontros, calçinhas vermelhas para uma Padilha e cuecas pretas para um Exu que gosta de homens e mulheres. Na montagem final o contraste do azul do mosquiteiro com o vermelho da colcha e seus olhos eletrônicos, me faz lembrar o mestre Fellini, talvez senhor espiritual do erotismo romântico que vi na baixa. (link para o vídeo)
MESA
Na mesa fiz a junção do "Tabuleiro de Pratos" com as "Travessas do Campo Sincretico" (ver retrato filmado e na Baixa dos Sapateiros nas postagens abaixo). O resultado são pratos de santos católicos que são recebidos para um banquete africano com o carruru parafinado. É a mesa para pensar o sincretismo, do ponto de vista cultural, existente na Bahia de suas manifestações religiosas.
BANHO
No Banheiro o euforismo nacionalista de Ary Barroso, para quem a exposição é dedicada pelo centenário comemorado naquele 2003. Nessa instalação, um tapete de solas de sandálias havaiannas levam ao conjunto de louças sanitárias apoiadas em uma peça de espelhos, com copos com flores de plástico brancas. no lavatório pequenos sapos plásticos fazem a festa e dentro do vaso sanitário uma latinha, sugerindo merda enlatada, é depositada com o rótulo TATE GALLERY.
Do lado direito dessa parte sanitária, ficava o box para banho, espaço delimitado por uma cortina transparente contendo centenas de pequenos espelhos ovais. Uma banheira amarelo ouro cheia de sal grosso sobre azulejos azuis piscina bossa nova.
No lado esquerdo, uma área de lazer do imenso banheiro: uma gramado plástico, uma rede feita com as correias das sandálias sugerem uma trave de campo de futebol, e no lugar do goleiro uma Caixa de Música tocava versões variadas de "Na baixa dos Sapateiros" do imortal Ary Barroso em ano de centenário. Essa ação, hoje sei, fez surgir mais tarde em 2007, o Projeto Big Bem que repensa ações que estão fazendo 100 anos nessa primeira década dos anos 2000.